Diz a canção que “Numa manhã de Setembro a vila acorda mais bela”, mas por razões que não se compadecem com a tradição, as últimas edições das Festas do Povo ou das Flores ou ainda dos Artistas, trouxeram de volta a Primavera a Campo Maior no final de Agosto.
Caiam-se as casas, marcam-se os lugares dos paus cujo papel é servir de esqueleto a toda a estrutura e dá-se forma às últimas folhas de papel de onde nascerão as flores que atraem as multidões. As Festas são do Povo, porque é o Povo que lhes dá o maior contributo. Sacrificam as merecidas horas de descanso para dar forma às flores e demais arranjos sem os quais Campo Maior não se poderia transformar, da noite para o dia, no mais belo dos jardins.
Tudo começa em Janeiro (ou antes), elege-se o “cabeça de rua” (personagem encarregada de organizar os trabalhos), faz-se o esboço da obra, escolhe-se a cor do papel e enceta-se o trabalho. Ao serão, depois de jantar, juntam-se em casa de uma das vizinhas. Graúdos e miúdos dobram, cortam e colam papel e, por entre as conversas de ocasião e os comentários à telenovela, inicia-se a magia. Nasce uma rosa, floresce uma tulipa, cresce uma oliveira. Tudo peças únicas. Feitas quase em série, iguais à primeira vista, mas únicas, cada qual traz o cunho de quem as fez, com as mãos e com o coração.
A agitação é muita, o cansaço também e por vezes surge o medo de não ter tudo pronto para a noite da “enrramação”. Mas é assim mesmo, as pessoas há já muito que estão habituadas a sofrer na pele o nervosismo e as noites mal dormidas que as Festas trazem consigo, no entanto também trazem a alegria de ver o encanto nos rostos dos forasteiros, maravilhados com tamanha manifestação de arte popular. Sentir que o seu trabalho é reconhecido e elogiado é a única recompensa para quem deixou um pouco de si em cada flor a que deu forma. Vem ao de cima um povo orgulhoso e, porque não, vaidoso, uma vaidade consentida por quem aprecia o mundo de sonhos em que entrou e, há que dize-lo, mais do que merecida.
Desde o mais pequeno dos pormenores até à mais elaborada entrada de cada rua, tudo isto nos transporta para um mundo feito com papel e com os sonhos de um povo. Pela originalidade, pela beleza, pela poesia, pela arte, por tudo isto e por muito mais vale a pena assistir ao espectáculo que são estas Festas, únicas no mundo, mas portuguesas, com certeza.