"O povo, que é artista, naturalmente artista!"

Em 1889, ainda sob o nome de Festas dos Artistas, começavam a ser esboçadas, quase em silêncio, aquelas que hoje o mundo conhece como Festas do Povo. Não nasceram com ambição de grandeza, nem com o propósito de serem vistas além das suas ruas. Nasceram de um gesto simples, genuíno e profundamente humano: o desejo de celebrar em conjunto.

Desde então, o Povo de Campo Maior tornou-se, sem nunca o reivindicar, o maior ícone desta história. Um povo que não esperou por reconhecimento externo para fazer da sua identidade uma obra coletiva. Um povo que, ao longo de décadas, soube transformar papel em flor, rua em jardim e vila em palco, levando as suas tradições muito para além das fronteiras físicas e geográficas.

O que aqui aconteceu — e continua a acontecer — não se ensina facilmente, nem se replica. É, por si só, um caso de estudo: uma comunidade inteira que constrói, com as próprias mãos, algo maior do que a soma das partes. Sem hierarquias rígidas, sem protagonistas individuais, sem marcas impostas. Apenas vontade comum, dedicação partilhada e um profundo sentido de pertença.

As Festas do Povo não são apenas memória, nem apenas futuro. Vivem num território emocional onde coexistem os que já partiram, os que estão e os que ainda virão. São a lágrima discreta que acompanha o sorriso da recordação. São o orgulho silencioso de quem olha para cima e reconhece, em cada pétala, horas de trabalho invisível. São a certeza de que a tradição, quando cuidada, não envelhece — renova-se.

Aqui, nada é feito por obrigação. Tudo é feito por compromisso. Cada flor carrega histórias, cada rua guarda segredos, cada edição deixa marcas que não se apagam. Nasceram das mãos, das vontades e dos corações de quem chama Campo Maior de casa.

Foi essa força coletiva, construída ao longo de mais de um século, que levou esta tradição a ser reconhecida internacionalmente. Mas mais importante do que qualquer distinção, é o facto de as Festas continuarem a pertencer a quem sempre as fez existir: o povo.

Porque enquanto houver alguém disposto a dobrar um pedaço de papel e transformá-lo em flor, enquanto houver vizinhos que se juntam para fazer acontecer, enquanto houver uma comunidade que acredita no valor do que constrói em conjunto, as Festas do Povo continuarão a florescer.

E em Campo Maior, como sempre, tudo nasce das mãos do povo.

Em Campo Maior, nas ruas, as pessoas "abrem" as suas mesas postas na rua, aos seus amigos, familiares e especialmente, abrem a mesa a qualquer "forasteiro" que que se queira juntar!

Lucila Guerra - in RTP 1972

137 anos de histórias, contadas pelas mãos do povo

ÍCONES das FESTAS

Para o Comendador Rui Nabeiro, as Festas do Povo eram muito mais do que uma tradição — eram uma celebração da alma campomaiorense.

Viu nelas o reflexo do que sempre acreditou: a força de uma comunidade que, unida, é capaz de transformar o impossível em beleza.

Com o entusiasmo que o caracterizava, Rui Nabeiro acompanhava cada edição com o olhar emocionado de quem reconhecia, em cada flor de papel, o trabalho, a dedicação e o amor das gentes da sua terra.

Aplaudia as ruas, visitava as casas, incentivava os vizinhos — e repetia, com orgulho, que Campo Maior não era apenas uma vila, mas um exemplo vivo de união e generosidade.

Hoje, cada pétala que floresce nestas festas carrega um pouco da sua visão e do seu legado: o de acreditar nas pessoas e na capacidade infinita do povo de Campo Maior em fazer nascer a beleza das suas próprias mãos.